ATA DA DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 19.05.1992.

 


Aos dezenove dias do mês de maio do ano de mil novecentos e noventa e dois reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Segunda Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e trinta e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a entregar o Prêmio de Teatro Qorpo Santo ao Diretor e Ator Luiz Paulo Vasconcellos, conforme Projeto de Resolução no 44/9l (Processo no 2561/91) do Vereador Antonio Hohlfeldt. A seguir o Senhor Presidente convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhores Luiz Paulo Vasconcellos; Sandra Dani, esposa do Homenageado; Diva Vasconcellos, mãe do Ho­menageado; Hamilton Braga, Coordenador da Secretaria Municipal de Cultura, Representando o Prefeito Municipal de Porto Alegre e o Vereador Antonio Hohlfeldt, Secretário “ad hoc”. Como ex­tensão da Mesa: Carolina e Gustavo, filhos do Homenageado. Em continuidade, o Senhor Presidente registrou o recebimento de di­versos telegramas, cumprimentando o Homenageado e informando da impossibilidade de comparecimento na presente solenidade. Re­portou-se acerca da solenidade e concedeu a palavra ao Vereador que falaria em nome da Casa. O Vereador Antonio Hohlfeldt, proponente e em nome da Casa saudou os presentes e discorreu so­bre a bagagem do ator, diretor e professor de teatro adquirida ao longo dos anos. O amor dedicado ao teatro o tornou um pro­fissional merecedor desta Homenagem. A seguir, o Senhor Presi­dente convidou o Vereador Antonio Hohlfeldt para fazer a entre­ga do Diploma ao Homenageado. Após, o Senhor Presidente conce­deu a palavra ao Homenageado que agradeceu a homenagem. A se­guir, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, na­da mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e sete minutos, convocando os Senhores Vereado­res para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pelo Vereador Antonio Hohlfeldt, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Antonio Hohlfeldt, Secretário “ad hoc” deter­minei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1o Secretario.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Damos por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene que se destina a homenagear Luiz Paulo Vasconcellos, reconhecido nome do meio artístico e intelectual da Cidade de Porto Alegre. Através desta solenidade, Porto Alegre externa seu agradecimento ao diretor de teatro e Professor, pelos 20 anos de trabalho em nosso meio e, acima de tudo, pela sua contribuição cultural e a sua dedicação a todos.

Fazem parte da Mesa, além deste Vereador, 1º Vice-Presidente da Casa, no exercício da Presidência dos trabalhos; o Ilmo. Sr. Luiz Paulo Vasconcellos, nosso homenageado; a Srª Sandra Dani, esposa do homenageado; o Ilmo. Sr. Hamilton Braga, Coordenador da Secretaria Municipal de Cultura, neste ato representando o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; e a Srª Diva Vasconcellos, mãe do nosso homenageado.

Como extensão da nossa Mesa, queremos registrar a presença dos filhos do homenageado, a Carolina e o Gustavo.

Aproveitamos a oportunidade para registrar nossa satisfação por estarmos presidindo esta Sessão Solene, ao mesmo tempo em que registramos a presença, em Plenário, dos Vereadores Antonio Hohlfeldt, proponente da homenagem, e Ervino Besson.

Com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Prezado companheiro Ver. Airto Ferronato, Vice-Presidente desta Casa, no exercício da Presidência nesta Sessão; prezado Luiz Paulo Vasconcellos, nosso homenageado desta ocasião, quando se concretiza a decisão da Câmara de Vereadores, através da proposta do Projeto de Resolução nº 44/91, aprovado em 12 de dezembro de 1991, que concede o Prêmio de Teatro Qorpo Santo; Sandra, que não é apenas a companheira do Luiz Paulo, mas que, sem dúvida, é a companheira de todos nós dentro da luta pela cultura, especialmente, pelo Teatro; Hamilton Braga, que mais do que o representante do Prefeito Olívio Dutra, e Coordenador de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura é também alguém que tem convivido há anos na área de teatro conosco; Dona Diva, que nos dá imenso prazer, enfrentando o frio do sul, ela que morava em Brasília, e comparece e esta Casa, na tarde de hoje, para acompanhar esta homenagem que se faz ao seu filho, alguém que não nascido nesta Cidade, mas que optando por desenvolver todo o seu trabalho, a sua profissão entre os gaúchos, recebeu, diria, talvez, até mais do que a homenagem desta Casa, recebeu a homenagem dos seus companheiros de profissão, de categoria. Porque se hoje estamos nesta sessão especial, fazendo a entrega deste diploma, deste prêmio ao Luiz Paulo, homenagem esta que já se fez, entre outros, ao Luiz Carlos Magalhães, que vejo aqui, à Irene Britsch, e se fará, sem dúvida nenhuma, no decorrer do tempo, a outros companheiros que têm desenvolvido suas atividades na Cidade de Porto Alegre. Vejo aqui o Delmar Messias, Luciano Alabarce, vejo a Aracy Esteves e é sempre bom quando reencontramos a Aracy, porque com a Aracy se reencontra toda uma importante fase do nosso teatro. E o Leverdogil de Freitas, que é uma outra época do nosso teatro, como a Miriam Amaral, que hoje abre um outro caminho totalmente diferente das nossas artes cênicas. Mas com o Luiz Paulo aconteceu uma coisa muito importante que eu gostaria de registrar. Nós estamos completando 10 anos de Vereança, nesta Cidade, e a maioria de vocês me conhecem, sobretudo, como jornalista, como cidadão que, profissionalmente, esteve ligado às artes de um modo geral, muito especialmente, ao teatro. Fui, inclusive, idealizador do prêmio Qorpo Santo, nesta Casa, que tinha apenas o Prêmio Érico Veríssimo dedicado a escritores, à área da literatura. E eu tive uma surpresa e uma alegria, no ano passado, quando recebi um Ofício, que faz parte do Processo, tenho aqui três folhas de assinaturas, com data de 2 de setembro de 1991, em que se dizia: "Os Signatários vêm solicitar a V.Exª o encaminhamento da distinção, através do Título de cidadania ao Prêmio Qorpo Santo para o Emérito Professor Luiz Paulo Vasconcellos, pela importante contribuição à cultura gaúcha no seu trabalho dedicado às artes, especialmente, ao teatro. Pela coragem, seriedade, generosidade no desempenho de suas atividades. Nós, em nome das entidades que representamos, colegas, alunos, ex-alunos, amigos e admiradores acreditamos que com a referida honraria estaremos resgatando, ao lado desta Casa, uma dívida de gratidão."

Meus companheiros, eu acho que para quem entende que a função política é uma função de intermediação, fundamentalmente, de representação popular; nada melhor do que nós podermos ter assinado um Projeto, uma proposta à análise dos Vereadores da Casa, que não partia de uma iniciativa particular, individual, mas que nascia exatamente de uma proposta coletiva. Confesso que não consigo identificar aqui a assinatura de todo mundo, mas dentre os que eu identifico, o Delmar Messias, que é o culpado de tudo, foi quem abriu a lista; Sônia Duro; Eva Schul; Camilo Delleres; Carlos Azevedo; João França; João Drumond; Janete Moraes; Eliane Britches; Luiz Carlos  Magalhães; Miriam Amaral; Denise Varella. Enfim, outros nomes que não consigo identificar todos. Enfim, tem todos os segmentos que, acho, atuam no teatro, nesta Cidade, firmaram este documento. E tendo recebido isto, encaminhei, como me cabia, evidentemente. Com dupla obrigação, enquanto alguém ligado à cultura e enquanto alguém que cumpria aquilo para o qual estava aqui, que era esta representação. E foi assim que este processo entrou na Casa, tramitou, foi aprovado no final de dezembro. Então, eu sugeri ao Luiz Paulo que nós aguardássemos para 92 a entrega do diploma, na medida em que no final do ano a gente estava com preocupações, a azáfama do verão, do natal, e não seria um período adequado para esta entrega. Então, escolhemos um dia nitidamente gaúcho para esta entrega, frio, minuano, e, no entanto, o calor do encontro, que eu diria que permite ao Luiz Paulo reunir aqui as suas duas famílias, no mínimo. Aquela família que se liga por laços de sangue, a sua mãe, a sua companheira, os seus filhos, e aquela família que, às vezes, é até mais importante para a gente, que é a família que nos une profissionalmente, dentro de nossas atividades. E é onde Sandra está de novo presente e, neste ponto, evidentemente, centraliza as atenções. Acho importante este tipo de reunião, quando a gente, ao homenagear, reúne amigos, reúne conhecidos, e, ao mesmo tempo, especialmente no caso do Luiz Paulo, se pode dizer claramente que esta permanência de, se não me engano, 22 anos, desde 70, não foi em vão.

E quando eu digo 22 anos, eu quero me referir explicitamente ao ano 70. Era um ano difícil no nosso País. Era o ano de plena ditadura. E era o ano onde, quando pintava uma cara nova, a gente ficava desconfiado. O que é que ela vinha fazer? Acho que o Luiz Paulo deve ter uma memória muito clara deste tipo de coisa, até porque ele baixou no CAD assim meio de repente. E era a pergunta que a gente vinha fazer. Será que este sujeito que pinta é da esquerda, é da direita? É mais um cidadão que vem fazer a representação do poder ou, ao contrário, vai ser mais um aliado para quem resiste a este poder? Certamente Luiz Paulo deve ter experimentado, nos primeiros momentos, várias desconfianças, vários distanciamentos, por parte de quem não o conhecia, ou por parte de quem, mais justificadamente, todos nós, víamo-nos cercados de todos os lados, é óbvio, tínhamos que nos resguardar. Tínhamos que saber com quem estávamos lidando. Acho que Luiz Paulo tinha um atestado que a gente muito rapidamente entendeu que garantia por ele, era a assinatura dos seus espetáculos e a sua disposição de participar, objetivamente, de movimentos e da organização. Eu via no currículo que, formalmente, integra o processo, que logo em 70 o Luiz Paulo estava com uma comissão encarregada de escrever, redigir o Regimento Interno do Departamento de Arte Dramática. E, obviamente, deve ter dado muita dor de cabeça, como tivemos aqui, Ver. Besson, nos últimos dias, a nossa dor de cabeça montando nosso Regimento Interno, adequando à nova Lei Orgânica; quando a gente exerce poderes, pressões, visões das coisas, mas depois ele assinava espetáculos como a primeira versão da obra dos "3 Vinténs", ele assinava um espetáculo que para mim foi marcante, como coragem de fazer uma cena, de ocupar espaços e propor alguma coisa que quebrava aquele comportamento cotidiano, burocrata, que, às vezes, invade o nosso teatro, que foi em 71 montar "Agamenon" do Ésquilo, e que me propiciou organizar nosso sempre saudoso Caderno de Sábado, uma dedicação total do miolo do caderno, oito páginas, dedicadas ao espetáculo, e ao texto do Ésquilo, e que me fez passar uma madrugada acordado por culpa dos compositores que compuseram todo o caderno dedicado ao "Agamenon" do Ésquilo, e tivemos que revisar, inteiramente, o caderno e colocar acento em todos os "És" maiúsculos para garantir que não saísse uma confusão desgraçada no texto. Mas o Luiz Paulo prosseguiu depois com uma tarefa, aqui a Irene, tem o Luciano, como diretores tem cumprido, um trabalho extremamente importante, que é de montar os nossos autores. Luiz Paulo dirigiu "Quem roubou meu anabela"; "Sexta-feira das paixões"; "Boneca Tereza" do Carlinhos Carvalho; "As Moças" da Isabel Campo, uma autora brasileira; fez o espetáculo fantástico "Apareceu a Margarida"; trouxe um espetáculo interessante "A tempestade" de Shakespeare; teve a coragem de correr riscos de montagens como "A gaivota", ocupava espaço da EPATUR, e como dizia, recentemente, não teve medo de propor, de se arriscar, a trazer novas visões com espetáculo mais recente da "Galinha idiota". Mais do que isso, Luiz Paulo tem feito um trabalho que eu acho que nem sempre encontramos entre os nossos professores da UFRGS, mesmo os do CAD, mesmo os do Departamento de Arte Dramática, que é o de escrever. Para além das adaptações de texto, destaco- por casualidade tive a honra de dividir o espaço com o Luiz Paulo- uma edição da Assembléia Legislativa, aliás, iniciativa do Carlos Carvalho, em 1975, os "Cadernos Culturais", em que eu assinava um texto sobre a dramaturgia do Rio Grande do Sul, e o Luiz Paulo assinava um texto fazendo um balanço sobre as atividades dos 17 anos de existência do nosso Departamento de Arte Dramática. Posteriormente, em 1986, no fascículo que o Instituto Estadual do Livro dedicou ao Carlinhos Carvalho, novamente me encontrava com o Luiz Paulo, então ele assinando o texto sobre o dramaturgo, e eu tive a oportunidade de assinar o texto sobre o contista e ficcionista Carlos Carvalho.

Uma coisa que ainda não foi bem analisada e bem destacada entre nós, em 87, o Luiz Paulo publicou o Dicionário de Teatro, pela LP&M. Digo que não foi bem analisado ainda, porque é um livro extremamente útil, e dou este testemunho, Luiz Paulo, porque eu uso permanentemente, quando estou fazendo as minhas resenhas. Não conheço, até pode ser um erro meu- a Profª Irene pode conferir, confirmar ou não- mas não me lembro se há uma obra semelhante, em português, publicada no Brasil. Normalmente utilizo livros espanhóis, ingleses, americanos, mas não conheço outra obra em português. Nesse sentido, mais uma vez, o Luiz Paulo tem um papel pioneiro entre nós. É um livro útil, porque reúne termos técnicos, englobando questões do teatro e da sua própria história, que nos esclarece, como sobretudo toca, sim, nas fases e tipos de teatros, principais autores, permitindo-nos, um retrato bem completo da história do teatro, além de incluir coisas do Brasil, o que normalmente nos livros estrangeiros nós não encontramos, somente de vez em quando uma mençãozinha ao Machado, que sabidamente não é bom dramaturgo, mas que fica por decorrência do ficcionismo, e, eventualmente, alguma coisa a mais sobre algum outro autor que conseguiu sucesso no exterior e ficamos por aí. No livro do Luiz Paulo temos a chance de ter algumas referências desse tipo. Esse é o lado profissional do Luiz Paulo.

Mas, quando marcamos essa data, fiz questão de conversar com alguns companheiros, destes artistas que haviam firmado o documento que solicitava a homenagem ao Luiz Paulo, e pedi a eles que me verbalizassem em algumas palavras o porquê do Luiz Paulo, porque, de repente, uma manifestação que eu não havia visto ainda. De um modo geral algum Vereador que conhece o autor ou diretor toma a iniciativa, propõe, reunimos muita gente aqui, mas não havia visto um episódio deste tipo. De um modo geral a palavra que eu mais ouvi em relação ao Luiz Paulo foi uma palavra bem simples que eu acho extremamente importante: lealdade, companheirismo. Eu queria transmitir isso a ti, Luiz Paulo, hoje, acho que um balanço de 22 anos é um razoável pedaço da vida da gente, sobretudo, numa época em que se discute tanto neste País: questões de ética, de fidelidade, de coerência, de responsabilidade e, sobretudo, como resultado, como eu dizia, de um período, em que você chegou aqui, que tínhamos marcas tristes do nosso cotidiano, a desconfiança, mas quando se chega num balanço duas décadas depois e se tem como a palavra referencial esta: lealdade, companheirismo, acho que isso diz alguma coisa. E se nenhum outro saldo houvesse, profissional, do professor, do diretor, do autor, do intelectual, dito como um todo, o que pensa coisas, o que é capaz de expressar as coisas que pensa, acho que se justificaria essa homenagem por isso. Acho que é muito difícil, para nós que lidamos com sensibilidade, fazermos isso com coerência, com sinceridade, se não tivermos também um mínimo desta referência, da lealdade, do companheirismo. Aprendi ao longo desses anos, quer na nossa área do teatro, quer na área da literatura, que são as duas áreas que eu mais convivo, que, às vezes, se briga, temos posições diferentes, se fala mal um do outro, mas, de um modo geral, nas grandes questões temos conseguido nos unir e acho que isso tem feito com que sobrevivamos bem ou mal. Se ao longo de décadas ainda conseguimos ter um teatro no Rio Grande do Sul e um teatro do qual, me parece, nenhum de nós precisa ou deve ter vergonha, ou achar que é menor que o centro do País, pelo contrário, acho que temos tido alguns espetáculos belíssimos, sérios, propondo discussões. Acho que se deve muito a isso, basta a gente ler nos programas, quem não está produzindo ou dirigindo, está dando uma mão, está sugerindo alguma coisa, emprestando um traje, tentando dar uma colaboração num pedaço de produção, fazendo um contato com uma empresa, sobretudo nesses tempos difíceis, arranjando um espaço para se ensaiar... Eu acho que, de uma certa maneira, Luiz Paulo, tu centralizas um pouco e a partir de hoje para nós, tu simbolizas um pouco esse tipo de característica, digamos assim. Eu espero que ao longo dos anos, em outros momentos que voltemos a nos reunir, nós possamos dizer também de outros companheiros, mas que por sorte, mas para responsabilidade tua de qualquer maneira, és tu que estás personalizando hoje, aqui e vais levar essa responsabilidade, a partir de hoje, que é um balanço, é o resultado, é a homenagem e é também o encargo que nós te passamos neste momento. Portanto, a nossa homenagem, em respeito a todos aqueles companheiros que te propuseram como merecedor do prêmio Qorpo Santo. Fico muito especialmente satisfeito porque nós já vencemos aquela etapa do Qorpo Santo mal compreendido, daquela época, numa etapa em que nós já conseguimos dizer obrigado, expressar esta convivência com o cidadão ainda vivo, presente, podendo conviver conosco. Acho que isso já é um progresso. Mas de qualquer maneira eu acho que é uma responsabilidade nós passarmos isso adiante e garantirmos isso para o futuro. Eu me sinto extremamente satisfeito, tenho uma admiração pessoal pelo Luiz Paulo e pela Sandra e satisfeito porque eu acho que de uma certa maneira, ao longo desses anos, sempre tentando fazer o meu trabalho a sério posso também responder a vocês das artes cênicas, dentro daquilo que vocês esperavam e pediram que fosse feito e obviamente nós ficamos sempre à disposição nesse sentido, sobretudo quando envolve gente como o Luiz Paulo Vasconcellos. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa registra o recebimento de diversos telegramas de cumprimentos ao nosso homenageado, informando da impossibilidade do comparecimento nesta Sessão: Senador Pedro Simon, Dep. César Schirmer, Dep. Jussara Cony, Srª Rita Guerlar Rodrigues, em nome do Presidente do TRR; Juiz José Luiz Ferreira Prunes, Sr. Geraldo Martuchelli e Luciana Martuchelli, Sr. Jorge Debiagi, Secretário de Estado do Planejamento e Obras Públicas; Sr. Luiz Fernando Recuero, do Teatro do COP; de Ivan Lima e amigos da LPM Editores; da Profª Eva Sopher e equipe; Sr. Carlos Cardinal, Secretário de Estado de Agricultura e Abastecimento; do Cel. Chefe do Estado-Maior da 3ª RM, Marco Antonio de Oliveira Vasconcellos. Passamos às mãos do nosso homenageado. E convidamos a todos para que de pé assistamos à entrega do Diploma.

 

(Lê os dizeres contidos no Diploma.)

 

Convidamos o Ver. Antonio Hohlfeldt, proponente da Sessão, para que faça a entrega do Diploma ao nosso homenageado.

 

(É feita a entrega.) (Palmas.)

Concedemos a palavra ao nosso homenageado, Luiz Paulo Vasconcellos.

 

O SR. LUIZ PAULO VASCONCELLOS: Exmo Ver. Airto Ferronato, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, no exercício da Presidência; Srs. Vereadores presentes; Sr. Hamilton Braga, Coordenador da Secretaria Municipal de Cultura, representando, neste ato, o Sr. Prefeito Municipal; Ver. Antonio Hohlfeldt; meus amigos, meus filhos, meus familiares.

Dois mil e quinhentos anos atrás, Aristóteles disse que a imitação é inata ao homem. Que é instintiva. Que é natural. Que o homem aprende imitando. E que o prazer decorrente da imitação é o prazer do aprendizado, da experiência vivida na imitação.

A arte, por sua vez, é uma forma de imitação. As diversas artes, no fim de contas, são maneiras diferentes de imitação. São formas de representação da realidade e, portanto, imitação dessa realidade. Música, pintura, dança, poesia, teatro, são formas de representação do homem, de seus conflitos, de suas relações, de seus costumes, de suas ansiedades, de suas vitórias e de seus fracassos. Do homem como indivíduo e do homem como ser social, coletivo. O ato de imitar satisfaz, portanto, nossa necessidade de conhecimento, de compreensão dos fenômenos que nos cercam. É um instrumento de aprendizado. E o prazer decorrente dessa imitação é o prazer do re-conhecimento. Diante da obra de arte o homem se reconhece, imitado, representado. A religião proporciona a re-ligação dos homens em torno de um ideal divino. A arte proporciona o re-conhecimento do homem pelo próprio homem. Não é à-toa que, historicamente, o teatro sempre emergiu dos rituais religiosos. É que uma vez reunidos diante da perfeição inatingível dos deuses, os homens necessitam reconhecerem-se simplesmente humanos.

No teatro, ainda seguindo a trilha deixada por Aristóteles, o objeto de imitação é a ação humana. Não o homem em si, mas o que ele pensa e faz. Não o indivíduo, mas a ação decorrente do seu conhecimento e das suas escolhas. Conhece-se um homem, afinal, pelo que ele pensa e faz. Por isso, na arte do teatro, o objeto de imitação não pode ser outro que aquilo que o homem pensa e aquilo que o homem faz.

Este preâmbulo com ranço de teoria da literatura é apenas para que possamos avaliar o potencial da arte dramática no contexto da sociedade, com esta se reconhecendo na representação na medida em que a representação é a imitação daquilo que ela pensa e faz. E da experiência de ver-se e sentir-se imitada, a sociedade, então, extrai o novo conhecimento de si, conhecimento este que será novamente imitado, representado, reconhecido, reaprendido para ser novamente imitado e assim por diante, indefinidamente.

Um teatro como este acima descrito é um teatro útil à sociedade. Faz parte do processo de identificação dessa sociedade. Faz parte da cultura dessa sociedade. É ativo. Vivo. Necessário. Bom.

Mas é também perigoso. Porque revela, indistintamente, as contradições e as fraquezas, as misérias e as injustiças que, provavelmente, a sociedade não quer reconhecer. Mas que estão ali, palpáveis, ao alcance da mão e do ouvido, no palco, na representação dos atores.

Eu vim para Porto Alegre há quase vinte e cinco anos. Vim dirigir teatro. Vim ensinar teatro. Aqui, encontrei um grupo de pessoas ávidas de conhecimento, querendo aprender a arte da imitação para poder representar, no palco, aquilo que a sociedade pensava e não fazia, já que se vivia, então, em pleno obscurantismo de uma ditadura, quando não se podia representar aquilo que se pensava, quando não se podia sequer pensar naquilo que não se fazia.

Na sala de aula, protegido pelos muros de uma instituição tão ambígua quanto necessária, como é a Universidade, e patrocinado pela saudável cumplicidade dos alunos, eu tenho conspirado durante esses anos todos contra os segmentos da sociedade que não querem se reconhecer na impiedosa e inspirada representação dos atores. Esta, tem sido a minha vida de homem de teatro, de artista, de pesquisador e de professor.

Eu gostaria que esta fosse a principal razão para hoje, aqui, receber este honroso prêmio da Câmara Municipal de Porto Alegre. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Sr. homenageado, Sras componentes da Mesa, Srs. Vereadores, Senhores e Senhoras presentes, em nome da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Porto Alegre, mais uma vez nossos cumprimentos ao Luiz Paulo Vasconcellos.

Queremos registrar e agradecer a presença de todos.

Encerramos a Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h07min.)

 

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